Aborto : Reflexão sobre essa crueldade

Sobre o aborto. Quando falamos de Pessoa Humana, pensamos naquela pessoa criada à imagem e semelhança de Deus, e não na pessoa que criou Deus à sua imagem e semelhança. Não cabe a nenhuma autoridade, nem mesmo ao Supremo Tribunal Federal, julgar pautado em silogismos, a dignidade que é atribuída à criatura predileta do Criador, a pessoa.

Descrever o útero de uma mãe que carrega dentro de si um feto anencefálico de “caixão”, seria cruel, não fosse diabólico.

Sabemos que “silogismo” é a dedução formal em que, postas duas proposições, as premissas, delas se tira uma terceira, a conclusão. No Brasil, o aborto não é considerado crime quando há risco para a vida da mãe ou quando a gravidez é resultado de estupro. Agora a Suprema Corte em quem toda a nação deposita sua confiança, decide que também não é mais considerado crime abortar fetos anencefálicos: criancinhas gestadas sem cérebro. Garantem que só nestes casos, e em nenhum outro mais, é permitido o aborto, sem ser considerado crime.

Os Ministros da Suprema Corte levaram 7 anos, 9 meses e 26 dias para chegar à cruel decisão no dia 12 de abril de 2012. Daqui há alguns anos, o Supremo Tribunal Federal será formado por outros Ministros, que poderá usufruir das decisões do atual com ainda maior ousadia, a não ser que se considerem imortais, colocando-se no lugar do Criador, esquecendo suas condições de meras criaturas, que esperávamos, garantissem a dignidade da vida humana aos Brasileiros.

Isso, se não forem “abortados” de suas cadeiras no STF por desrespeito à vida humana ou por conta de algum escândalo, desses que estamos acostumados a assistir no Congresso Nacional. Não estaríamos caminhando para uma situação de eugenia, de total desrespeito aos direitos humanos?

Daqui há pouco determinar-se-á que abortar um feto sem o dedo menor, sem uma das mãozinhas ou alguma outra anomalia também não será considerado crime. Sim, porque não cansamos de ouvir de nossos Governantes, de que a saúde da mulher, também da abortiza, deve ser uma questão de “Saúde Pública”. Sabemos que a Saúde Pública de nosso País não consegue nem curar a dor de barriga de seus cidadãos. Teria o SUS condições de amparar, zelar e assumir a saúde das mães pobres e grávidas, especialmente em pré-natal?

Nem as pessoas conveniadas conseguem agendar exames mais sofisticados, como ultrassom ou outros? Quantas mães grávidas morrerão nas filas de mais de dez horas, quando não dias de espera por um atendimento realmente digno?

Algum dos seletos leitores conhece alguém que tenha cometido aborto, julgado, condenado e preso? Pois lhes garanto que conheço centenas de mulheres presas ao próprio remorso e arrependimento e, nos procuram 50 ou 60 anos mais tarde para afirmarem que não conseguem perdoar-se de jeito nenhum. Tais traumas psicológicos são diferentes dos de uma mãe que descobre gerar uma vida, mesmo que anencefálica?

A Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB sobre o assunto de Nº 0340/12 é de profundo lamento: “Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja”.

Também em nome dos alunos do Curso de Bacharel em Teologia da UNIESP, que coordeno; da Reitoria Santo Antônio, Pão dos Pobres; do Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto e de todas as Mães que atendo em direções espirituais, independente de suas crenças e profissões religiosas, registro a mais profunda decepção em relação ao julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54. Sentir-se “criador” e perder a noção de que somos meras criaturas, seria cruel, não fosse diabólico! Continuamos convictos de que a vida humana é sagrada e sua dignidade inviolável.

por

Pe. Gilberto KasperMestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

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